Autismo e diferenças entre homens e mulheres: o que você precisa saber
O autismo é um transtorno do desenvolvimento que afeta a comunicação e o comportamento social, além de causar interesses restritos e comportamentos repetitivos. O autismo é considerado um espectro, pois pode variar em gravidade e manifestação entre as pessoas. O autismo é mais frequentemente diagnosticado em meninos do que em meninas, mas isso pode refletir uma diferença na forma como o transtorno se apresenta nos diferentes sexos. Neste artigo, vamos explorar algumas das diferenças entre homens e mulheres com autismo, bem como as possíveis causas e implicações dessas diferenças.
Diferenças comportamentais
Uma das principais diferenças entre homens e mulheres com autismo é o tipo e a intensidade dos comportamentos repetitivos e restritos. Estudos mostram que os meninos com autismo tendem a ter mais comportamentos estereotipados, como balançar o corpo, bater as mãos ou girar objetos, do que as meninas com autismo (VAN WIJNGAARDEN-CREMERS et al., 2014). As meninas com autismo, por outro lado, tendem a ter mais interesses restritos, como colecionar objetos, seguir rotinas ou se apegar a temas específicos, do que os meninos com autismo (LAI et al., 2015). Essas diferenças podem tornar mais difícil identificar as meninas com autismo, pois seus comportamentos podem parecer menos óbvios ou mais socialmente aceitáveis do que os dos meninos.
Outra diferença comportamental entre homens e mulheres com autismo é a forma como eles interagem socialmente. As meninas com autismo geralmente têm mais habilidades sociais do que os meninos com autismo, podendo imitar ou copiar o comportamento de outras pessoas para se encaixar em um grupo (DEAN et al., 2017). As meninas com autismo também podem ter mais interesse em fazer amizades e se relacionar emocionalmente com outras pessoas, mas podem enfrentar dificuldades para entender as regras sociais implícitas ou manter conversas recíprocas (HEAD et al., 2014). Os meninos com autismo, por sua vez, costumam ter menos interesse ou motivação para interagir socialmente, podendo se isolar ou preferir atividades solitárias (MANDY et al., 2012). Os meninos com autismo também podem ter mais dificuldade para reconhecer expressões faciais, gestos ou pistas sociais não verbais (CARTER LENO et al., 2018).
Diferenças cerebrais
As diferenças comportamentais entre homens e mulheres com autismo podem refletir diferenças na organização cerebral. Um estudo recente da Universidade de Stanford usou técnicas de inteligência artificial para analisar centenas de imagens cerebrais de crianças e adolescentes com autismo, sem comprometimento cognitivo. Os pesquisadores encontraram diferenças significativas nos padrões de conectividade cerebral entre meninos e meninas com autismo, que não foram observadas em crianças típicas (SUPEKAR; MENON et al., 2022). As diferenças foram encontradas em várias regiões cerebrais envolvidas na linguagem, na atenção, na memória e na emoção. Os pesquisadores sugerem que essas diferenças podem explicar por que os sintomas do autismo variam entre os sexos e podem indicar a necessidade de diagnósticos específicos para cada gênero.
As causas das diferenças cerebrais entre homens e mulheres com autismo ainda não são totalmente conhecidas, mas podem envolver fatores biológicos e ambientais. Alguns estudos sugerem que os hormônios sexuais, como a testosterona e o estrogênio, podem influenciar o desenvolvimento cerebral e o risco de autismo (BARON-COHEN et al., 2014). Outros estudos apontam para uma possível influência genética, já que as meninas parecem precisar de uma carga maior de mutações genéticas para desenvolver o autismo do que os meninos (JACQUEMONT et al., 2014). Além disso, fatores ambientais, como o estresse pré-natal, a exposição a toxinas ou infecções, ou a interação social precoce, podem afetar o cérebro de forma diferente dependendo do sexo (WERLING et al., 2016).
Diferenças genéticas
Além das diferenças comportamentais e cerebrais, há também evidências de diferenças genéticas entre homens e mulheres com autismo. O autismo é um transtorno altamente hereditário, com uma estimativa de 50 a 80% de herdabilidade (SANDIN et al., 2014). No entanto, o autismo não é causado por um único gene, mas por uma combinação de vários genes que interagem entre si e com o ambiente. Estudos genéticos têm identificado centenas de variantes genéticas associadas ao autismo, mas nenhuma delas explica mais do que uma pequena fração dos casos (GESCHWIND et al., 2013).
Uma hipótese que pode explicar a maior prevalência do autismo em meninos é a do modelo protetor feminino, que sugere que as meninas têm uma maior resistência genética ao autismo do que os meninos (JACQUEMONT et al., 2014). Segundo essa hipótese, as meninas precisam de uma carga maior de mutações genéticas para desenvolver o autismo do que os meninos, o que implica que as meninas com autismo têm um perfil genético mais severo e heterogêneo do que os meninos com autismo. Essa hipótese é apoiada por estudos que mostram que as meninas com autismo têm mais mutações de novo (que não são herdadas dos pais) e mais mutações no cromossomo X (que é mais expresso nas meninas) do que os meninos com autismo (WERLING; GESCHWIND, 2013).
Outra hipótese que pode explicar a diferença de gênero no autismo é a da heterogeneidade fenotípica, que sugere que existem subtipos distintos de autismo que se manifestam de forma diferente em homens e mulheres (LAI; BARON-COHEN; BUXBAUM, 2015). Segundo essa hipótese, o autismo seria causado por diferentes combinações de genes e fatores ambientais que afetam diferentes vias biológicas e resultam em diferentes fenótipos comportamentais e cognitivos. Essa hipótese é apoiada por estudos que mostram que há uma maior variabilidade clínica e genética entre as meninas com autismo do que entre os meninos com autismo (SZATMARI et al., 2015).
Implicações práticas e processo de diagnóstico
As diferenças entre homens e mulheres com autismo têm implicações importantes para o diagnóstico, o tratamento e o prognóstico do transtorno. Como as meninas com autismo podem apresentar sintomas mais sutis ou camuflados do que os meninos, elas podem passar despercebidas ou serem diagnosticadas tardiamente, perdendo a oportunidade de receber intervenções precoces que podem melhorar seu funcionamento (HILLER; YOUNG; WEBER, 2014). Além disso, como a maioria dos instrumentos de avaliação e dos programas de tratamento do autismo foram desenvolvidos com base em estudos com meninos, eles podem não ser adequados ou sensíveis às necessidades específicas das meninas (HULL et al., 2017). Por outro lado, como os meninos com autismo tendem a ter mais dificuldades sociais e comportamentais do que as meninas, eles podem enfrentar mais desafios para se adaptar à escola, ao trabalho e à vida adulta (HOWLIN et al., 2013).
Portanto, é fundamental reconhecer e valorizar as diferenças entre homens e mulheres com autismo, respeitando suas individualidades e potencialidades. Para isso, é preciso investir em mais pesquisas sobre o autismo no sexo feminino, bem como em métodos de diagnóstico e intervenção que levem em conta as características de cada gênero. Assim, será possível oferecer um atendimento mais personalizado e eficaz para as pessoas com autismo, independentemente de seu sexo.
O processo de diagnóstico do autismo envolve uma avaliação multidisciplinar que inclui observação clínica, entrevistas com os pais ou cuidadores, aplicação de escalas padronizadas e testes neuropsicológicos. O diagnóstico é baseado nos critérios do DSM-5 (MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS, 2014), que não discriminam por gênero. No entanto, pesquisas recentes sugerem que o autismo se manifesta de forma diferente em homens e mulheres, o que pode dificultar o diagnóstico nas meninas (PSYCHOLOGY TODAY, 2021).
Algumas das dificuldades para diagnosticar o autismo nas meninas são:
- As meninas com autismo tendem a ter uma maior capacidade de imitar ou copiar o comportamento social de outras pessoas, o que pode mascarar seus déficits de comunicação e interação (DEAN et al., 2017).
- As meninas com autismo geralmente têm interesses restritos mais sutis ou mais compatíveis com os de outras meninas da mesma idade, o que pode reduzir a percepção de seus comportamentos repetitivos (LAI et al., 2015).
- As meninas com autismo podem ter menos problemas de comportamento ou hiperatividade do que os meninos com autismo, o que pode diminuir a demanda por atenção ou ajuda profissional (MANDY et al., 2012).
- As meninas com autismo podem ter mais dificuldade para expressar ou reconhecer suas próprias emoções ou necessidades, o que pode levar a um sofrimento psicológico silencioso ou internalizado (HEAD et al., 2014).
- As meninas com autismo podem estar sujeitas a maiores expectativas ou pressões sociais para se conformarem aos papéis de gênero, o que pode aumentar sua ansiedade ou baixa autoestima (LAI; BARON-COHEN; BUXBAUM, 2015).
Para superar essas dificuldades, é preciso utilizar instrumentos de avaliação que sejam sensíveis às diferenças de gênero no autismo, bem como considerar os relatos dos pais ou cuidadores e as observações em diferentes contextos. Além disso, é preciso estar atento aos sinais sutis ou indiretos de autismo nas meninas, como dificuldades na compreensão das regras sociais implícitas, na manutenção de conversas recíprocas, na regulação emocional ou na flexibilidade cognitiva. Por fim, é preciso levar em conta as possíveis comorbidades psiquiátricas que podem estar associadas ao autismo nas meninas, como ansiedade, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo ou transtorno alimentar (FRONTIERS IN PSYCHIATRY, 2021).
Conclusão
O autismo é um transtorno complexo e multifatorial que apresenta diferenças significativas entre homens e mulheres. Essas diferenças envolvem aspectos comportamentais, cerebrais e genéticos, e podem ter implicações para o diagnóstico, o tratamento e o prognóstico do transtorno. É importante reconhecer e valorizar as diferenças entre homens e mulheres com autismo, respeitando suas individualidades e potencialidades. Para isso, é preciso investir em mais pesquisas sobre o autismo no sexo feminino, bem como em métodos de diagnóstico e intervenção que levem em conta as características de cada gênero. Assim, será possível oferecer um atendimento mais personalizado e eficaz para as pessoas com autismo, independentemente de seu sexo.
Referências
AUTISMO e diferenças entre homens e mulheres: o que você precisa saber. Disponível em: https://www.example.com/autismo-e-diferencas-entre-homens-e-mulheres. Acesso em: 30 jan. 2022.
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Olá! Eu sou Gérson Silva Santos Neto, e minha paixão é explorar os mistérios da mente humana e desvendar os segredos do cérebro. Mas espere, há mais: sou também um neurocientista biohacker. Vamos nos aprofundar nisso?
O Começo da Aventura
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Doutorado em Neurociências e Ciências do Comportamento: Minha jornada acadêmica me levou à Universidade de São Paulo (USP), onde mergulhei fundo no estudo dos distúrbios do neurodesenvolvimento. Imagine: perfis cognitivos, comportamentais e de personalidade da síndrome de Turner, tudo isso conectado à herança cromossômica do X. Foi uma verdadeira aventura científica!
Mestre em Ciências (Neurociências): Antes do doutorado, fiz uma parada estratégica para obter meu título de mestre. Minha pesquisa? Investigar as alterações neuropsicológicas relacionadas ao rinencéfalo, usando a síndrome de Kallmann como modelo. Essa síndrome, com suas disfunções genéticas, é um quebra-cabeça intrigante que me fez perder noites de sono (no bom sentido, claro!).
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Aqui está o toque especial: sou um biohacker. O que isso significa? Bem, não apenas observo o cérebro; também experimento com ele. Desde otimização cognitiva até técnicas de meditação avançadas, estou sempre explorando maneiras de elevar nossa experiência mental. Ah, e sim, às vezes uso eletrodos e wearables estranhos. Mas hey, a ciência é uma aventura, certo?
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