Meditação: uma prática benéfica para a saúde mental

A meditação é uma prática milenar que consiste em treinar a atenção e a consciência para alcançar um estado de calma e equilíbrio. Existem diferentes tipos e técnicas de meditação, mas todas elas têm algo em comum: o foco no presente, na respiração e na observação dos pensamentos e sentimentos sem julgamento.

Nos últimos anos, a meditação tem ganhado cada vez mais adeptos e também interesse da ciência, que busca compreender os seus efeitos para a saúde física e mental. Neste texto, vamos apresentar algumas evidências científicas que mostram os benefícios da meditação, especialmente para o bem-estar psicológico, a redução do estresse e da ansiedade, a melhora da cognição e da memória, e o auxílio no tratamento de problemas crônicos de saúde, como depressão e insônia.

Como a meditação afeta o cérebro?

A meditação é uma forma de exercitar o cérebro, assim como fazemos com os músculos do corpo. Ao meditar, ativamos diferentes áreas cerebrais que estão relacionadas à atenção, à emoção, à memória e à aprendizagem. Além disso, a meditação pode alterar a estrutura e a função do cérebro, aumentando a espessura da massa cinzenta (onde ficam os corpos celulares dos neurônios) e fortalecendo as conexões entre as células nervosas.

Um dos principais efeitos da meditação é a redução da atividade da rede default do cérebro, que é responsável pelos pensamentos automáticos, distraídos e muitas vezes negativos que temos quando estamos “viajando”. Esses pensamentos podem gerar ansiedade, estresse e baixa autoestima. Ao meditar, diminuímos o fluxo desses pensamentos e aumentamos o foco no momento presente, na respiração e nas sensações corporais. Isso nos ajuda a ter mais clareza, concentração e presença1.

Outro efeito da meditação é a diminuição do tamanho e da atividade das amígdalas cerebrais, que são estruturas ligadas às emoções de medo, raiva e ansiedade. Pessoas que meditam regularmente têm as amígdalas menos reativas a estímulos estressantes ou ameaçadores, o que significa que elas conseguem controlar melhor as suas emoções e ter mais tranquilidade diante das dificuldades2.

A meditação também aumenta a produção de neurotransmissores que estão envolvidos no humor, no prazer, na dor e na imunidade. Alguns exemplos são: GABA (ácido gama-aminobutírico), que tem um efeito calmante no cérebro; dopamina, que está relacionada à motivação e à recompensa; serotonina, que regula o humor e previne a depressão; endorfinas, que são analgésicos naturais do corpo3.

Quais são os benefícios da meditação para a saúde mental?

A meditação pode trazer diversos benefícios para a saúde mental, tanto em curto quanto em longo prazo. Alguns deles são:

  • Diminuição do estresse: A meditação ajuda a reduzir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, que pode causar diversos problemas de saúde, como hipertensão, diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares. A meditação também ajuda a melhorar a capacidade de lidar com situações estressantes ou desafiadoras, desenvolvendo habilidades como resiliência, autoconfiança e autocontrole4.
  • Redução da ansiedade: A meditação ajuda a diminuir a ansiedade, que é um estado de apreensão, nervosismo e medo excessivo diante de situações reais ou imaginárias. A meditação ajuda a acalmar a mente, a respirar melhor, a relaxar o corpo e a regular as emoções. A meditação também pode ser útil para pessoas que sofrem de transtornos de ansiedade, como fobias, pânico, obsessões e compulsões.
  • Prevenção e tratamento da depressão: A meditação ajuda a prevenir e a tratar a depressão, que é um transtorno caracterizado por tristeza profunda, perda de interesse, culpa, baixa autoestima e isolamento social. A meditação ajuda a aumentar os níveis de serotonina, que é um neurotransmissor que regula o humor e previne a depressão. A meditação também ajuda a desenvolver uma atitude mais positiva, otimista e compassiva em relação a si mesmo e aos outros.
  • Melhora da cognição: A meditação ajuda a melhorar as funções cognitivas, como atenção, concentração, memória, raciocínio e criatividade. A meditação aumenta o fluxo sanguíneo para o cérebro, o que favorece a oxigenação e a nutrição das células nervosas. A meditação também aumenta a espessura da massa cinzenta em áreas relacionadas à aprendizagem e à inteligência.
  • Melhora da memória: A meditação ajuda a melhorar a memória de curto e de longo prazo, que são essenciais para o armazenamento e o resgate de informações. A meditação melhora a memória de trabalho, que é a capacidade de manter e manipular informações por um curto período de tempo. A meditação também melhora a memória declarativa, que é a capacidade de recordar fatos e eventos. A meditação pode ser especialmente benéfica para pessoas idosas ou com doenças neurodegenerativas, como Alzheimer.
  • Melhora da qualidade do sono: A meditação ajuda a melhorar a qualidade do sono, que é fundamental para a saúde física e mental. A meditação ajuda a induzir um estado de relaxamento profundo, que facilita o adormecimento e o sono profundo. A meditação também ajuda a reduzir os pensamentos negativos ou preocupantes que podem atrapalhar o sono. A meditação pode ser uma alternativa natural e segura para pessoas que sofrem de insônia ou outros distúrbios do sono.

Como começar a praticar meditação?

A meditação é uma prática simples, acessível e gratuita, que pode ser feita por qualquer pessoa, em qualquer lugar e em qualquer momento. Não é necessário ter nenhum conhecimento prévio ou seguir nenhuma religião ou filosofia específica. Basta ter vontade, disposição e disciplina.

Existem diferentes tipos e técnicas de meditação, mas todas elas têm algo em comum: o foco no presente, na respiração e na observação dos pensamentos e sentimentos sem julgamento. Algumas das técnicas mais conhecidas são:

  • Mindfulness: É uma forma de meditação que prega a atenção plena ao momento presente, sem se deixar levar pelo passado ou pelo futuro. O objetivo é perceber os pensamentos, as emoções e as sensações corporais com curiosidade e aceitação, sem tentar mudá-los ou evitá-los. O mindfulness pode ser praticado através de exercícios formais (como sentar-se em silêncio por alguns minutos) ou informais (como prestar atenção à respiração, aos sons ou às cores durante as atividades cotidianas).
  • Meditação transcendental: É uma forma de meditação que utiliza um mantra (uma palavra ou som sem significado) para acalmar a mente e transcender os pensamentos. O objetivo é alcançar um estado de consciência pura, além dos sentidos e da razão. O mantra deve ser repetido mentalmente durante 15 a 20 minutos, duas vezes ao dia, preferencialmente pela manhã e à tarde.
  • Meditação guiada: É uma forma de meditação que utiliza uma voz externa (pode ser um áudio gravado ou um instrutor ao vivo) para conduzir a atenção e a imaginação do praticante. O objetivo é relaxar o corpo e a mente, criar cenários positivos, estimular a criatividade e a autoestima, ou alcançar algum propósito específico (como superar um medo, resolver um problema ou manifestar um desejo). A meditação guiada pode ter diferentes durações, temas e estilos, dependendo do objetivo e da preferência do praticante.

Essas são apenas algumas das técnicas de meditação existentes, mas existem muitas outras que podem ser exploradas e experimentadas. O importante é encontrar uma que se adapte às suas necessidades, ao seu tempo e ao seu ritmo. Não há uma forma certa ou errada de meditar, mas algumas dicas podem ajudar a tornar a prática mais fácil e eficaz:

  • Escolha um lugar tranquilo, confortável e sem distrações para meditar. Pode ser no seu quarto, na sala, no jardim ou em qualquer outro ambiente que te faça sentir bem.
  • Escolha um horário adequado para meditar. Pode ser pela manhã, ao acordar, à tarde, após o trabalho, ou à noite, antes de dormir. O ideal é que você tenha pelo menos 10 minutos disponíveis para se dedicar à prática, sem interrupções ou compromissos.
  • Escolha uma postura confortável para meditar. Pode ser sentado em uma cadeira, em um banco, em uma almofada ou no chão, com as pernas cruzadas ou esticadas. O importante é manter a coluna ereta, os ombros relaxados e a cabeça alinhada com o corpo. Você pode apoiar as mãos sobre as pernas ou juntá-las em frente ao peito. Você também pode deitar-se de costas, com os braços ao lado do corpo e as pernas levemente afastadas, desde que não corra o risco de dormir.
  • Escolha um foco de atenção para meditar. Pode ser a sua respiração, um mantra, uma imagem, um som ou uma sensação corporal. O importante é manter o foco nesse objeto durante toda a prática, sem se distrair com outros pensamentos ou estímulos. Se você perceber que a sua mente divagou, não se preocupe nem se critique. Apenas reconheça o pensamento e volte gentilmente para o foco de atenção.
  • Escolha uma duração adequada para meditar. Não há um tempo mínimo ou máximo para meditar, mas é recomendável começar com sessões curtas (de 5 a 10 minutos) e ir aumentando gradualmente (até 20 ou 30 minutos) conforme você se sinta mais confortável e confiante. Você pode usar um cronômetro, um aplicativo ou uma música para marcar o tempo da prática.
  • Escolha uma frequência regular para meditar. Não há uma frequência ideal para meditar, mas é aconselhável fazer da prática um hábito diário ou pelo menos semanal. Quanto mais você meditar, mais fácil será entrar no estado de relaxamento e concentração e mais benefícios você obterá.

Conclusão

A meditação é uma prática milenar que pode trazer diversos benefícios para a saúde física e mental. A ciência tem mostrado que a meditação pode afetar positivamente o cérebro, reduzindo o estresse, a ansiedade e a depressão, melhorando a cognição e a memória, e auxiliando no tratamento de problemas crônicos de saúde, como insônia.

A meditação é simples, acessível e gratuita, podendo ser feita por qualquer pessoa, em qualquer lugar e em qualquer momento. Existem diferentes tipos e técnicas de meditação que podem ser exploradas e experimentadas. O importante é encontrar uma que se adapte às suas necessidades, ao seu tempo e ao seu ritmo.

A meditação é uma forma de cuidar de si mesmo, de se conectar com o presente e de desenvolver uma atitude mais positiva, otimista e compassiva em relação à vida. Que tal começar hoje mesmo?

Referências

LUTZ A., GREISCHAR L.L., RAWLINGS N.B., RICARD M., DAVIDSON R.J., Long-term meditators self-induce high-amplitude gamma synchrony during mental practice. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 2004, 101(46), 16369-16373. Disponível em: https://www.pnas.org/content/101/46/16369

GHERARDI-DONATO E.C.S., CARDOSO L., MORAES J.F.D., A meditação como tecnologia de cuidado em saúde. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 2014, 48(1), 184-189. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reeusp/a/9JqgKwz4xZfZp3Wq6n7FQ4d/?lang=pt

GROSSMAN P., NIEMANN L., SCHMIDT S., WALACH H., Mindfulness-based stress reduction and health benefits: A meta-analysis. Journal of Psychosomatic Research, 2004, 57(1), 35-43. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0022399903005737

VORKAPIC C.M., RANGÉ B.P., A ciência da meditação: revisão teórica dos principais benefícios psicológicos da prática da atenção plena. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 2015, 11(1), 25-34. Disponível em: https://www.rbtc.org.br/detalhe_artigo.asp?id=469

 

Autor

  • DrGersonNeto

    Olá! Eu sou Gérson Silva Santos Neto, e minha paixão é explorar os mistérios da mente humana e desvendar os segredos do cérebro. Mas espere, há mais: sou também um neurocientista biohacker. Vamos nos aprofundar nisso? O Começo da Aventura Desde criança, eu já era fascinado pelas perguntas que pareciam não ter respostas simples: Por que pensamos o que pensamos? Como nossas emoções se entrelaçam com os circuitos neurais? Essas questões me impulsionaram a seguir uma carreira na interseção entre a psicologia e a neurociência. A Jornada Acadêmica e Além Doutorado em Neurociências e Ciências do Comportamento: Minha jornada acadêmica me levou à Universidade de São Paulo (USP), onde mergulhei fundo no estudo dos distúrbios do neurodesenvolvimento. Imagine: perfis cognitivos, comportamentais e de personalidade da síndrome de Turner, tudo isso conectado à herança cromossômica do X. Foi uma verdadeira aventura científica! Mestre em Ciências (Neurociências): Antes do doutorado, fiz uma parada estratégica para obter meu título de mestre. Minha pesquisa? Investigar as alterações neuropsicológicas relacionadas ao rinencéfalo, usando a síndrome de Kallmann como modelo. Essa síndrome, com suas disfunções genéticas, é um quebra-cabeça intrigante que me fez perder noites de sono (no bom sentido, claro!). Biohacking: Desvendando Limites Aqui está o toque especial: sou um biohacker. O que isso significa? Bem, não apenas observo o cérebro; também experimento com ele. Desde otimização cognitiva até técnicas de meditação avançadas, estou sempre explorando maneiras de elevar nossa experiência mental. Ah, e sim, às vezes uso eletrodos e wearables estranhos. Mas hey, a ciência é uma aventura, certo? Se você quiser saber mais ou trocar ideias sobre cérebros, biohacking ou qualquer coisa do gênero, estou aqui! 🧠✨